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Carcinogenicidade

Estudos sobre o potencial carcinogénico do furano foram conduzidos pelo Programa Nacional de Toxicologia dos EUA (NTP), no ano de 1993, administrando-se doses de furano de 0, 2, 4 e 8 mg/ kg de massa corporal de furano pela dieta, a ratos e camundongos.

O furano mostrou aumentar a incidência combinada de adenomas hepatocelulares e carcinomas em ratos macho F344. Além disso, o furano aumentou a incidência de colangiocarcinomas em ratos macho e fêmea, após 2 anos de administração de 2, 4 e 8 mg/ kg de massa corporal. Após este tempo, para as doses de 4 ou 8 mg/kg de massa corporal houve um aumento na incidência e multiplicidade de tumores hepáticos, além da diminuição do tempo de latência dos tumores.

Com as doses de 4 mg/kg de massa corporal, aumentou significativamente a incidência de neoplasia hepatocelular e leucemia celular mononuclease em ratos. Observou-se, também, um aumento da incidência de neoplasia hepatocelular e feocromocitomas da glândula supra-renal em camundongos expostos a uma dose de 8 mg/kg de massa corporal. Simultaneamente, foi observada uma alta incidência de lesões hepáticas não neoplásicas em todos os ratos sujeitos a tratamento com furano. Estas lesões incluíam hiperplasia do trato biliar que foi normalmente acompanhada por inflamação, fibrose e quistos; hepatomegalia do fígado; degeneração; necrose; hiperplasia nodular e vacuolização. Além disso, foi observada inflamação e hiperplasia no estômago, bem como nefropatia (o grau de gravidade aumentava em todos os casos com a dose). [13]

 

Assim, foi mediante estes estudos que o furano foi classificado como possível carcinogénico humano, pela IARC (International Agency for Research on Cancer), em 1995 e inserido na categoria de carcinogenicidade 2 pela Comissão Alemã MAK, em 2006.

 

 

 

 

Independentemente da genotoxicidade do furano, os resultados de uma série de estudos sugerem que a carcinogenicidade do furano pode, pelo menos em parte, ser mediada através de mecanismos não genotóxicos ou através de danos indiretos do DNA através da formação de espécies reativas de oxigénio. Em particular, está se tornar cada vez mais claro que a exposição ao furano em doses associadas com o aumento de tumores provoca inicialmente necrose hepatocelular, acompanhada por inflamação e proliferação regenerativa dos hepatócitos, que pode apresentar eventos-chave na carcinogenicidade hepatocelular induzida por furano. A proliferação persistente de células biliares e mesenquimais que se prolongam para o parênquima do fígado lesionado, presumivelmente como parte de uma resposta de reparação para substituir o tecido necrótico, em seguida, leva ao desenvolvimento de colangiofibrose e a um tipo de metaplasia intestinal (precursores do colangiocarcinoma). Assim, é possível que diferentes mecanismos contribuam para a carcinogenicidade deste composto.

Mecanismo não genotóxicos de carcinogenicidade [3]

Figura 14: Colangiocarcinoma 

Figura 15: Neoplasia Hepatocelular 

Figura 16: Espécie reativa  

Estudos em humanos

Ainda não foram publicados estudos que relacionassem a carcinogenicidade do furano no Homem.

 

É de salientar,  que os estudos epidemiológicos sobre o consumo de furano, já apresentados no separador deste site "onde se encontra?",  não revelam qualquer evidência do possível efeito cancerígeno  em seres humanos.

 

Surpreendentemente, um recente estudo que relacionou a ingestão de café com o risco de cancro primário no fígado, revelou uma associação inversa entre o consumo de café e o aparecimento de carcinoma hepatocelular. Os autores relataram uma redução de 41% do carcinoma hepatocelular nas pessoas que bebiam café, comparado com as que nunca beberam, resultados similares aos obtidos em relação ao grupo controlo e a estudos prospetivos. [14] Este aparente efeito protetor do café, foi também verificado em estudos no Sul da Europa, onde o café é bastante consumido e no Japão, onde o consumo é menos frequente, bem como em estudos com indivíduos com doenças crónicas no fígado. Contudo, é de salvaguardar que o café é uma mistura complexa de compostos químicos, incluindo compostos com propriedade antioxiodiantes e anticarcinogénicas, que devem ter uma influência no desenvolvimento de cancro.

 

 

 

 

Num estudo do ano de 2008, Jun et al., relatou uma associação entre a atividade da γ-glutamil transferase (γ- GT) e a concentração de furano na urina em 100 indivíduos saudáveis.

Após uma dieta regular coreana, o furano foi detetado na urina da manhã de 56 indivíduos, numa concentração superior a 3,14  μg/L.  Vários parâmetros clínicos foram avaliados e constatou-se que havia uma correlação entre as concentrações de furano na urina e atividade de γ-GT no plasmaOs autores interpretaram este resultado como um indicador do efeito hepatotóxico do furano. [15]

Contudo esta conclusão não é convincente, porque o estudo apresenta várias falhas, nomeadamente a não deteção de metabolitos de furano na urina, o facto de no caso de haver realmente efeito hepatotóxico não aumentar apenas a γ-GT mas, também, os valores de alanina aminotransferase (ALT), o facto de apenas ser relatado que os indivíduos eram saudáveis mas não haver qualquer informação sobre consumo do álcool destes (o álcool leva ao aumento da γ-GT), etc.

Ou seja, são necessários estudos futuros para avaliação dos efeitos carcinogénicos do furano em humanos, uma vez que os resultados que existem são escassos e inconsistentes.

 

 

 

 

Estudos em animais

Figura 17: Café e o cancro 

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